Um draft com a cara do Titans


Há muito tempo eu cheguei a uma conclusão: o draft é o principal evento da NFL. Ao contrário do Super Bowl, em que dois times concentram toda a atenção, no recrutamento cada franquia tem muito a ganhar e bastante a perder. Quando você é derrotado na final de conferência, fica ainda mais claro como a grande final pode ser só um jogo entre duas equipes que você não tem apreço algum. 

O draft é uma fábrica de sonhos até para aqueles torcedores que têm pesadelos com as escolhas dos seus times. Esse não é o caso do Titans. Claro que tivemos períodos tenebrosos, mas nada parecido com o que o Jets já passou, por exemplo.

Responsável pelas escolhas do Titans há cinco anos, Jon Robinson vem mostrando que sabe o que fazer na war room. Não à toa, o nosso time ainda não teve uma temporada negativa desde que ele foi contratado.

Ao todo, Robinson selecionou 35 jogadores desde 2016. Em oito ocasiões, ele optou por subir no draft. Os trade downs foram mais incomuns, ocorrendo apenas três vezes. O dirigente também abriu mão e agregou algumas picks para obter jogadores antes do draft. Na mais famosa dessas transações, ele cedeu um pick no 4th round para ter o QB Ryan Tannehill. Late picks também vieram quando mandamos o OG Andy Levitre e o DT Jurrell Casey para Falcons e Broncos, respectivamente.

Robinson é um GM que confia demais no seu “taco”. Em 2018, ele arriscou bastante ao sair de Dallas com apenas quatro escolhas. O draft capital foi assassinado para que Robinson subisse no draft para pegar o ILB Rashaan Evans, o EDGE Harold Landry e o DB Dane Cruikshank. Por fim, Robinson permaneceu com o 199º pick e escolheu o QB Luke Falk.

Avaliar prospects é o que há de mais complexo nesse esporte. A prova é que o único hexacampeão do Super Bowl foi o 199º jogador escolhido em 2000. Todos os 31 times passaram Tom Brady inúmeras vezes. O New England Patriots, autor do pick que mudou a história da liga, optou por selecionar seis atletas antes do QB de Michigan. Nesse grupo, ninguém vingou, sendo que OT Adrian Klemm foi quem acumulou o maior número de partidas como titular. Somente dez ao longo de cinco anos.

Dada tamanha complexidade, o ideal para os GMs é não supervalorizar sua capacidade de escolher jogadores. Há um manual para o bom draft? Acredito que não, mas a história diz que o mais prudente é acumular o maior número possível de picks até a quinta rodada e nunca selecionar alguém antes do necessário.

Robinson vem seguindo esse manual? Não. Isso o torna um GM ruim? Também não, mas será que esse método de trabalho vai seguir rendendo resultados à equipe, uma vez que não é o que os times vencedores fazem?

Mesmo escolhendo pouco, Robinson conseguiu tirar grandes coelhos da cartola. Os seus maiores trunfos estão nos Dias 2 e 3 do draft. Em 2016, ele trouxe para a franquia o RB Derrick Henry e o S Kevin Byard, ambos atletas que está em seu segundo contrato na liga.

No ano seguinte, Robinson acertou pra mim o que é o seu maior home run do ponto de vista do ROI. Na quinta rodada, ele subiu para selecionar o ILB Jayon Brown. À primeira vista um defensor limitado, que jogaria poucos downs, Brown se tornou um dos melhores da liga em sua posição.

Talvez em 2019 Robinson tenha feito o seu melhor trabalho no draft. Fora dos holofotes da primeira rodada, ele foi atrás do WR A.J. Brown e do OG Nate Davis, ambos titulares naquele que foi o melhor ataque da história da franquia. Para a defesa, ele bancou os desconhecidos Amani Hooker e David Long Jr., importantes peças até no special teams.

E como Robinson se saiu em 2020? Se você julga o desempenho de um profissional apenas pelo resultado, a resposta para essa pergunta vai aparecer daqui a alguns anos. Já se você acredita que o certo é analisar o processo, é possível já começar a comentar o que aconteceu nos últimos dias.

Anualmente, o site Pro Football Focus divulga a média das notas obtidas pelos GMs segundo a avaliação dos especialistas. Provavelmente, Robinson é o GM mais medíocre da liga, uma vez que nas últimas cinco temporadas, o seu trabalho nunca ficou entre os 10 mais bem avaliados e nem entre os dez piores. Esse ano, Robinson ganhou a sua menor nota, ocupando a 19ª posição. No ano de 2017 foi quando ele se saiu melhor, recebendo a 11ª melhor avaliação.

Indiscutivelmente, o pick que derrubou a nota de Robinson foi logo o primeiro que ele fez. Assim como o site Pro Football Focus, o jornalista Arif Hassan, do The Athletic, divulga a média com a avaliação dos analistas, porém o foco do trabalho dele são os boards lançados antes do recrutamento. Segundo o consensus big board de Hassan, Wilson aparecia como o oitavo melhor OT da classe, sendo que entre todos os prospects, o gigante da Georgia ocupava a 59ª posição.

Apontado por muitos analistas como um OT ainda bastante cru, Wilson registrou números pífios no Combine naqueles exercícios de agilidade. Entretanto, quando precisou mostrar força e explosão, Wilson se sobressaiu sobre quase todos os seus concorrentes.

Robinson nunca foi um GM de ir atrás de outsiders como Wilson. O que de certa forma tranquiliza parte da torcida. Como o Titans optou por renovar com o veterano Dennus Kelly, o calouro não vai ter a necessidade de jogar logo na week 01.

Além de ser imenso, Wilson mostrou ser um jovem acima da média fora do campo, obtendo notas boas em testes de capacidade cognitiva. Bastante maduro para um jogador de apenas 21 anos, ele provavelmente conquistou Robinson na visita que fez ao CT do Titans antes da quarentena provocada pela COVID-19.

A situação do CB Kristian Fulton foi oposta. Na média, o atleta de LSU aparecia como o terceiro melhor jogador da sua posição, porém ele foi o nono CB escolhido no draft. Em seu trabalho, Hassan divide os analistas entre aqueles que estão mais próximos dos GMs da NFL e aqueles que trabalham exclusivamente com análise de vídeo. Para os analistas ditos “mais bem informados”, Fulton era o 42º melhor jogador do draft. Já para quem tem como meta avaliar o que os prospects fazem em campo, ele aparecia na 23ª posição.

Essa discrepância explica o porquê de Fulton ter caído tanto. Na faculdade, ele chegou a ser suspenso por tentar fraudar um exame anti-dopping. A liga não olha para atletas assim com bons olhos, talvez aí esteja o motivo que levou Fulton estar disponível tão tarde.

Buscando reforçar ainda mais o ataque, Robinson encerrou o Dia 2 do draft com outro reach. Na escolha 93º, ele foi atrás do RB Darrynton Evans. Apesar de ter sido apontado pelo consensus big board como segundo melhor pass catcher entre os RBs, o atleta de Appalachian State era o apenas 125º melhor prospect da sua classe.

Evans é dono de um atleticismo pouco visto em RBs. Capaz de produzir correndo, recebendo e retornando, ele pode ser o parceiro ideal para Derrick Henry. O problema de Evans é o baixíssimo número de tackles quebrados. Na NFL ele vai se deparar com atletas tão ou mais rápidos do que ele. Será que Evans vai conseguir ser efetivo quando precisar passar por eles?

O Titans ganhou um pouco mais de depth na defesa ao pegar o IDL Larrell Murchison na quinta rodada. Quinto melhor DT 5-tech no consensus big board, ele saiu depois do esperado.

Nos minutos finais do draft, o Titans selecionou dois jogadores no 7th round. Nesse ponto do recrutamento, não há muito o que se falar. Apesar de ser uma aposta total, o QB Cole McDonald parece ter conquistado a confiança da comissão técnica do Titans. Para permanecer no roster, ele vai precisar se sair melhor do que Logan Woodside. Poucos QBs calouros vão ter uma vida mais tranquila do que essa.

Por fim, o Titans buscou o DB Chris Jackson, da universidade de Marshall, um defensor que sequer apareceu no consensus big board.

O draft deixou claro que o Titans vai seguir com a filosofia mostrada nos últimos anos. No ataque, vamos correr o máximo possível, passando por cima das defesas (cada vez mais leves), com uma OL formada por atletas imensos. Na defesa, o objetivo é contar com atletas disciplinados, versáteis e rápidos. Muitos questionaram a falta de um EDGE no draft. Muitas das minhas apostas em 2020 fracassaram, mas aqui eu acertei em cheio. O Titans gosta do que tem na posição, mesmo se tratando de um grupo medíocre.

A busca por uma identidade é ótima, mas fizemos a escolha certa para vencer o Super Bowl? O passado recente da liga mostra que não, mas é o que vamos tentar fazer. Esperem um Titans em 2020 parecido com o que vimos na segunda metade da última temporada, quando o time jogou bem contra todo mundo. É difícil abrir mão de algo que lhe deu um resultado tão bom, mas as vezes é o necessário. Se lembram quando trocamos de HC após conseguirmos a nossa primeira vitória nos playoffs em quase 15 anos? Queria esse JRob de volta.

TitansUP!
Um draft com a cara do Titans Um draft com a cara do Titans Reviewed by Diego Scorvo on 22:04 Rating: 5

Um comentário

Professor Marcelo Arantes disse...

Excelente ... Detalhe: eu te avisei do Jayon Brown antes de ele virar ... vou arriscar outra: O David Long Jr. é mais explosivo que o Jayon Brown, se ele conseguir cobrir TE, será o último ano do Brown por aqui ... infelizmente, por mim poderíamos voltar ao 43 de outrora ... Depois de ficar anos com GMs horríveis, estou feliz com JRob ... precisamos dar aquele passo, encontrar aquele cara que muda o jogo defensivamente!

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